A Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade José Eduardo dos Santos (FCA-UJES) recebeu, no dia 05 de Fevereiro de 2025, uma delegação composta por consultoras moçambicanas, Dr.ª Joana Henriques e Dr.ª Elsa Tomás, representantes do Serviço Nacional de Sementes (SENSE) e do Gabinete Provincial da Agricultura do Huambo, numa visita que reforça o papel central da instituição na formulação de políticas agrícolas sustentáveis em Angola. O encontro teve como objectivo recolher informações técnicas e científicas para subsidiar a regulamentação da introdução de sementes geneticamente modificadas (SGM) no país, um tema que tem gerado amplo debate devido às suas implicações para a segurança alimentar, a biodiversidade e o desenvolvimento agrícola.
Durante a visita, o Decano da FCA-UJES, Professor Doutor Ambrósio Fortunato de Almeida, apresentou as valências da instituição e reafirmou a sua disponibilidade para contribuir tanto na investigação científica como na extensão rural, garantindo que o conhecimento gerado seja disseminado de forma eficaz. A Faculdade, que há anos incorpora o estudo das SGM nos programas de disciplinas de licenciatura, mestrado e doutoramento, demonstrou a sua posição pioneira no ensino dessa tecnologia, mesmo antes de o país estabelecer uma legislação específica sobre o tema. O Vice-Decano para os Assuntos Científicos, Professor Doutor José Pedro João, enfatizou esta abordagem académica, destacando que a FCA-UJES tem preparado profissionais para lidar com os desafios e oportunidades das biotecnologias agrícolas, consolidando-se como uma referência nacional na área.
A reunião proporcionou um debate aprofundado sobre os impactos da introdução das SGM em Angola, com especial atenção para a necessidade de preservação da diversidade genética das culturas tradicionais. O Professor Adriano Braga Bingobingo alertou para os riscos da polinização cruzada em culturas como o milho e o algodão, que fazem parte do programa de SGM, e ressaltou a importância de mecanismos de protecção para evitar perdas na variabilidade genética. Além disso, destacou um dos desafios centrais da adopção desta tecnologia: a crescente disparidade entre a agricultura familiar e as grandes empresas, que, em princípio, deterão o controlo sobre estas variedades. Para evitar o desestímulo dos pequenos produtores, defendeu a criação de projectos paralelos que garantam condições de competição justa, permitindo que a agricultura familiar continue a desempenhar um papel vital na produção alimentar nacional.
Outro ponto crucial levantado foi a necessidade de infra-estruturas adequadas para garantir que as SGM alcancem o seu potencial produtivo, como sistemas de irrigação eficientes e acesso a insumos agrícolas compatíveis. A discussão também abordou a importância da transparência e do direito de escolha do consumidor, sugerindo medidas para que os produtos oriundos de sementes geneticamente modificadas sejam claramente identificados, permitindo que a população decida de forma informada sobre o seu consumo.
A investigação científica foi um dos pilares do encontro, com o Professor Ginjas Alexandre Manuel a sublinhar a importância de desenvolver capacidade nacional para realizar melhoramentos genéticos localmente, assegurando a eficácia dos genes introduzidos e a adaptação das variedades às condições agro-ecológicas do país. O Professor Daniel Lucas Lionjanga reforçou a posição da FCA-UJES como um centro de excelência para investigação agrícola, destacando a infra-estrutura de laboratórios, que podem atender os desafios da Biologia Molecular e Biotecnologia, e a fazenda experimental da faculdade, que oferece condições ideais para ensaios de adaptabilidade e outros estudos necessários para validar cientificamente as SGM antes da sua adopção em larga escala.
O encontro encerrou-se com um compromisso de colaboração entre a FCA-UJES e as entidades envolvidas, destacando a importância da academia na construção de um sistema agrícola baseado na ciência, na inovação e na sustentabilidade. Com esta iniciativa, a FCA-UJES reafirma a sua posição como um dos pilares do avanço agrícola em Angola e na região, consolidando-se como uma referência na produção de conhecimento científico e na modernização do sector agrícola.